sexta-feira, 30 de maio de 2008

Opinião: O espetáculo no "caso Isabella"

Favor apagar os holofotes





Rafael Póvoa

Confesso ao leitor que tentei esperar que o caso estivesse completamente esquecido. Entretanto, passados dois meses, só posso dizer que paciência tem limite. Ainda assim acredito que, apesar de lanternas e vaga-lumes, os holofotes e flashes já estão bem mais fracos.

Considerações feitas, imagino oportuno o momento para que rompa o silêncio e, finalmente, me pronuncie sobre o famoso “caso Isabella”. Porém, gostaria de tranqüilizar os que já estão saturados do assunto (como eu próprio). Afinal, mesmo me solidarizando com o cruel assassinato de tão inocente e bela criança, não há como deixar de criticar a postura dos principais veículos de comunicação brasileiros.

“Manipulação da massa?”




Mesmo não acreditando nas Teorias Apocalípticas da Escola de Frankfurt – em que a mídia manipularia uma massa totalmente passiva e desprovida de senso crítico – não pude deixar de observar o processo de "espetacularização". Em seu livro "Showrnalismo- a notícia como espetáculo", José Arbex utiliza-se deste termo para mostrar como o jornalismo irresponsável transforma informação em entretenimento. Tal atitude é um desrespeito à inteligência do público e, por isso, acredito que muitos leitores, telespectadores, ouvintes e internautas se “saturaram” deste assunto. Não obstante, este insiste em continuar aparecendo na mídia.
Obviamente, acredito que o interesse público (ou mesmo o interesse do público) é um critério de noticiabilidade indispensável. Porém, como bem lembra a jornalista Ivana Barreto, no texto “Perguntas óbvias, cobertura exagerada”, publicado no site http://www.observatoriodaimprensa.com.br/, o tema ocupou lugar de outros assuntos relevantes. “Se somarmos o tempo dedicado até agora pelos veículos à cobertura da morte de Isabella Nardoni, chegaremos rapidamente à conclusão de que ele poderia ter sido dividido com outros fatos que também interessam à sociedade”, defende. A jornalista cita ainda o destaque dado à reconstituição do crime e a excessiva repetição de informações.



http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=487JDB009
(confira o texto na íntegra)




Tudo para chamar a atenção!!!
Lamentavelmente, a mídia forçou a barra e apelou para enquetes, entrevistas com “especialistas”, exploração da imagem da menina e uma incansável “perseguição” aos acusados. Infelizmente, as aparições do casal foi motivo de grande correria dos profissionais da imprensa. Nada restando senão concordar que essas cenas nos remetiam às imagens de urubus e hienas atrás de um pedaço da carniça.
O circo realmente esteve repleto de atrações e, durante dois meses, nos emocionamos com as coleguinhas da Isabella, vimos missa celebrada pelo Pop Star Católico e soubemos quem visitou ou deixou de visitar o casal. Como se não bastasse, ficamos sabendo do “menu” servido aos acusados e engolimos intermináveis “entrevistas exclusivas”, cujo grau de relevância para o caso eram praticamente nulo.








“Enquanto isso...

... a zona rola solta no congresso”, soltos também estão os envolvidos da “Operação Pasárgada” e outras “Isabellas” são brutalmente assassinadas na periferia. No entanto, a mesma atenção não é devotada tanto da parte da mídia, quanto da sociedade. Oxalá, tivéssemos a mesma cobertura e o mesmo interesse por outros assuntos relevantes. Sendo assim, proponho ao internauta um teste: digite no Google um tema que você considere relevante (Operação Pasárgada, por exemplo) e depois digite “Caso Isabella”. Assim, você mesmo tira suas conclusões.

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4 comentários:

Anônimo disse...

Que isso, é realmente impressionante a pesquisa do google. E o que mais me preocupa é a ultima parte da reportagem, enquanto se discute o caso isabella, lá em Brasília são 19 horas. E sem mais para o momento!

Anônimo disse...

Daniel Guerra,

Primeiro queria anúnciar q não sabia que o jornal continuava a todo vapor nos meios modernos de mídia em massa. Pelo que tenho lido, tenho gostado muito, uma postura neutra de um jornal em uma cidade onde a imprensa é um mero "fantosche" de uma prefeitura que deixa a desejar. Entretanto, o que vim comentar não foi isso, é bom ver que temos ainda no Brasil jornais ,como vocês, que não preocupam em vender picolés da kibon ou latinhas de skol, mas preocupam em passar o melhor ao seus leitores. Todavia, esses jornais infelizmente são lidos por poucos, porque brasileiro preferem preocupar com massacre de uma garotinha`as questões políticas. Sendo, que em reuniôes de congresso pode-se decidir muito mais vidas que muitos acreditam.

Marcos disse...

Realmente não podemos afirmar que o sensacionalismo não exista. Como conversamos anteriormente, o interesse da massa também conta muito na grande repercussão que houve no caso.

É aquela história, se dá ibope é porque há interesse. Coisa rara também não é, porém envolve classe média-alta no assunto como no caso Richtoffen, em que menina rica mata os pais e todo mundo acha um absurdo.

Mas é importante falarmos sobre isso aqui também por mostrar o lado dos meios de comunicação que utilizam uma matéria como essa para chamar os telespectadores.

E da mesma forma vale lembrar que a TV Cultura nunca liderou a audiência no Brasil, apesar de ser educativa e nem mesmo pelo Vila Sésamo ser muito mais legal que os Nardoni todos e reunidos.

...Disso nem minha sobrinha, de 6 anos de idade, tem dúvidas.

Rafael Póvoa disse...

"Kibom" que compartilham das minhas idéias sobre o caso. Espero que continuem lendo e participando do jornal.

A opinião de todos deve ser respeitada e é sempre relevante. Por isso, acredito que além de leitores, todos contribuem para formar este jornal.

Debates de alto nível serão sempre bem vindos!